quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Deu na Coluna !

Russo, mais que ad-junto na sua situação econômico-racial, provém de língua amordaçada. O único reduto confiável para si mesmo. Já além, muito além de orgias mortas, recupera-se na mais distinta insensatez, o que esperava de não esperar de nada. Coloquialismo entre o bar e o padrão da calçada. Rejuvenescido na teia que presa atos, epístolas, dimensões e figurativismos; Issos...
Russo Andrade, poeta e compositor, às vésperas de sua morte cansou, e foi dormir mais cedo.



Kaio Miotti

terça-feira, 12 de agosto de 2008

CINE BOTECO

CINE BOTECO

CENA I – delírio às nove no colchão da sala

“botei o terno que a menina me deu
pra escutar lorota
pra escutar conselho amigo de bar
de bar! De bar!
eles não sabem o que é correr com o copo cú de pinga na mão
de bar! De bar! “

Tocava essa música no rádio. Tocava a jovem guarda que eu nunca ouvi. Tocavam os dedos e os olhares na lua cheia daquele dia. E ninguém mais era tímido. E as beiradas da alma eram do couro e lentes amarelas. E me sentia tão disposto, contaminado por aquela alegria toda, que entupia o bar de gente. Era fim de ano e o sufoco do trabalho escapava pelas tardes e a gelada no balcão. Acho que ninguém mais tava fudido, parecia isso, todo mundo gostava. E as calçadas também me pareciam conformadas de andares altivos, coisa firmes e potentes. E o sol despencara asfalto a baixo.


CENA II
Banquete Madrugada (o sol vai realmente nascer)

- Porra cara, tá difícil. Que horas são?
- cinco e quarenta.
- Cacete, vai ser foda! Tira esse Nelson enquanto é cedo e o sol não nasce.
- Ih, não agüenta nascer de sol, é?
- Não agüento é candura de entrar morto no dia, aprisionado no vício de ontem.
- Que?
- Só disse que não gosto de ver a noite acabar enquanto ainda to cheirado, entendeu?
- Telúrico Maestro! Telúrico!

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CENA III
18:34 PM

Sentado na beirada da cama. Um tanto suado. As mãos latejando. E o sol, o sol já meio fraco. E me parecia a terceira visita da mesma moça, que vinha com a mesma saia e o mesmo decote, as mesma alucinações. A mesma virgem coroada com meus desabafos e minhas flores desbotadas. Eu queria me achar crucificado. Em algum lugar muito lá em baixo que mais que sofrido. Mas não achava minhas mãos. Achei entre os dedos um cigarro amassado. Chorei, com duas lágrimas que não desabaram.

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KAIO MIOTTI